No começo do século 20, a paternidade e a maternidade eram mais comuns na segunda década de vida. Famílias eram formadas por pais jovens, nos seus 20 anos ou até antes disso. Mas esse quadro mudou: a evolução socioeconômica propiciou à população viver mais e envelhecer, o que não só ampliou a expectativa de vida ao redor do mundo (sobretudo em países desenvolvidos) como, nas últimas décadas, propiciou um adiamento na paternidade e na constituição da família.

Sabíamos que o tempo é muito importante para a maternidade, uma vez que a mulher tem uma diminuição da capacidade reprodutiva com o passar dos anos até perdê-la na menopausa. Também já tínhamos consciência de que a maternidade tardia está associada a algumas doenças e ao crescimento no número de crianças com síndrome de Down, por exemplo.

Esse conceito não existia para a paternidade. Havia a impressão de que a idade do pai não teria reflexo sobre a fertilidade ou o risco de problemas na prole. Porém, hoje contamos com evidências de que esperar para ser pai também tem suas consequências. Estudos epidemiológicos revelam que, após os 40 anos de idade, a qualidade do sêmen piora e o tempo para obter a gestação aumenta significativamente em relação ao dos homens mais jovens.

Conexão com autismo e doenças psiquiátricas

Além da maior dificuldade em ser pai, a ciência aponta uma relação entre uma maior idade paterna e o aumento da incidência, nos filhos, de esquizofrenia e doenças do espectro autista, condições caracterizadas por atrasos no desenvolvimento cognitivo e psicossocial que possuem origem genética.

A maior incidência de autismo entre filhos de pais com mais de 50 anos tem sido documentada em vários trabalhos epidemiológicos. Independentemente dos números, que variam entre as populações estudadas, continuamos observando essa ligação. Como são pesquisas que não permitem comprovar causa e efeito, além da idade paterna, outras variáveis podem ser consideradas, como a idade materna, história familiar de doenças psiquiátricas e fatores ambientais e comportamentais.

Outra doença mais frequente em filhos de pais mais velhos, a esquizofrenia é marcada por delírios e pensamentos persecutórios. O primeiro estudo deste século sobre essa conexão mostra um risco quase três vezes maior de pais acima dos 50 anos terem filhos com a condição. Uma análise de várias outras pesquisas mais recentes sobre o tema, publicada em 2011, corrobora os achados iniciais.

Esse conteúdo foi publicado originalmente no blog com A Palavra, da Abril Saúde, um espaço coordenado pelo jornalista Diogo Sponchiato, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde. Confira o link: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/o-homem-pode-ser-pai-em-qualquer-idade